quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Crianças de Hoje e de Ontem



Algo que muito me espanta nos dias de hoje é o comportamento de algumas crianças e a vida que elas levam. Lembro-me que quando era pequena ficava feliz com uma simples brincadeira inventada de última hora pelos meus bisavós e avós. Brincadeiras que hoje pareceriam sem jeito nenhum para qualquer criança da ‘atualidade’, naquela altura fazia-me muito feliz.
Aprender cantigas de roda, brincar na horta com a minha avó, ler um livro de histórias infantis, ver minha bisavó esculpir na madeira pequeninos brinquedos, dava-me tanta alegria. Pois é, mas hoje em dia tudo isso é ’sem graça’ para as crianças, o ‘must’ é ter o último play station, o game melhor do que o colega tem, o tenis de grife famosa, a calça da moda, o ‘tudo’ da moda.
Amor, carinho, simplicidade, respeito aos mais velhos, solidariedade, o desfrutar das coisas simples da vida, parece não ter espaço na vida de alguns deles.
Pergunto-me se todas estas coisas boas que eu vivi na minha infância, um dia fará falta na vida destas crianças. Será que um dia elas vão conseguir olhar para vida de uma forma diferente? Será que no futuro, esta geração saberá verdadeiramente o que é amor, o que é ser feliz com coisas cimples, o que é sentir-se bem numa praia deserta, o que é estar feliz apenas porque ainda temos os nossos pais vivos? Tenho sérias dúvidas. E porque?
Porque ‘educação’ vem de berço, é quando se é pequeno que se aprende também as pequenas coisas boas da vida.
Deixo-vos abaixo uma linda poesia que para mim exemplifica muito bem o tema que abordei nas linhas acima. Trata-se da poesia ‘Crianças da Minha Idade’ autoria de Fernando Cardoso e parte integrante do livro ‘Amo Logo Existo‘ (Ed. Portugal Mundo). Tenho absoluta certeza de que você que é pai ou mãe irá se identificar com ela, assim como eu me identifiquei. 


Crianças da Minha Idade

Onde estão as crianças
da minha idade;
os co-heróis de aventuras
do Farwest
passadas no pátio da rua?
Onde estão nossas pistolas
feitas de pau;
nossos cavalos obedientes
de cabos de vassoura;
nossos chapéus
de folhas de jornais velhos;
nossas coroas
de penas de galináceos?
Onde está a nossa imaginação;
nossa liberdade de passos e gestos;
nossa alegria de viver;
nossa felicidade de ter dois tostões no bolso
para comprar rebuçados na mercearia da esquina?
Onde estão as crianças
da minha idade?
Vejo seus espectros
em passos e gestos comedidos
concetrados, compenetrados,
cansados sem correr;
não riem
e se sorriem fazem-nos cronometricamente
na hora precisa
quando parece mal ficarem sisudos;
andam, como eu, de coleira ao pescoço
que só ousam tirar ao Domingo;
não fabricam pistolas, cavalos ou chapéus
compra tudo feito.
Tudo.
Há muito
deixaram de se guiar
pelo Sol e pelas Estrelas
olham apenas
para o Deus-Relógio
com tiques nervosos
em busca do dia seguinte
tirado a foto cópia das vésperas.
Outros
são peritos em gastronomia,
descansam as mãos
sobre o abdómen dilatado,
riem por tudo e por nada
e discutem futebol
como única coisa séria na vida.
Onde estão
as crianças da minha idade,
os Heróis da minha rua?
Morreram? Que saudades!!!

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